expedições
às
ocupações
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maio de 2016
Tina Martins
Ao visitarmos, em 03 de maio de 2016, o movimento de mulheres Tina Martins — ocupando naquele momento a antiga Escola de Engenharia da UFMG, situada entre as ruas dos Guaicurus e Espírito Santo — e a ocupação da Frente Brasil Popular em Defesa da Democracia, acampado na Praça da Liberdade, aproveitamos para levar doações (comidas e roupas) e para nos aproximarmos de questões sociais em plena ebulição naquele momento político. A primeira ocupação apontava a premência de acolher mulheres em situação de risco, vítimas de violência e agressões domésticas. A condição destas mulheres estava agravada pela truculência com a qual foram tratadas pela polícia ao serem desabrigadas. Durante quase três meses a ocupação Tina Martins resistiu nesse local, sofrendo diversas ameaças de invasão e desapropriação por parte das forças repressivas do estado. Ao final dos três meses, essas mulheres lutadoras conquistaram finalmente uma sede própria na Rua Paraíba, garantindo esse direito fundamental de moradia em Belo Horizonte.
Frente Brasil Popular em
Defesa da Democracia
A Frente Brasil Popular, no dia 1º de maio de 2016, iniciou um processo de ocupação da Praça da Liberdade, em BH, montando um acampamento por tempo indeterminado, em defesa da democracia. Apropriando-se desse espaço público importante da cidade, teve com o intuito a provocação de um diálogo com a comunidade chamando sua atenção para o golpe em curso no Brasil.
Como forma de resistência aos eminentes desmandos políticos em processo com o então Plano Temer, em franco sucateamento dos serviços públicos, destituindo a população em geral de seus direitos mais básicos, a Frente Popular realizou assembleias, reuniões, encontros e uma intensa programação cultural, marcando seu posicionamento e suas várias reivindicações. O grupo leve, dentre as atividades realizadas no semestre, esteve lá presente nesse mês de maio, trazendo sua contribuição e participação dentro desta programação, apoiando e levando doações para os manifestantes.
Funarte
Na Funarte, em 17 de maio de 2016, transferimos nosso encontro para um dos galpões da instituição, naquele momento ocupada por artistas, estudantes, representantes de movimentos sociais e pessoas em situação de rua, buscando com isso apoiar a reação contra a fusão de ministérios (da Educação e Cultura), promovida pelo recém empossado governo golpista de Michel Temer. Tratava-se de um momento de resistência em que, toda e qualquer iniciativa de ocupação cultural, artística e mesmo acadêmica daquele espaço, era bem vinda no sentido fortalecer a resistência, buscando reverter tal situação imposta pelo governo federal que representava imenso retrocesso nas políticas culturais em todo o país. Conflitos internos e externos revelaram a complexidade de iniciativas de resistência dessa natureza e ameaçaram, em muitos momentos, a efetividade de tal atuação. Mesmo assim, em sintonia com outras unidades da Funarte, espalhadas por todo o país, a ocupação dessa unidade em Belo Horizonte contribuiu significativamente para a retomada do Ministério da Cultura, sem entretanto conseguir garantir que houvessem outros avanços maiores...
Arena Pitanguí
A última expedição realizada pelo grupo nesse semestre foi uma proposta de Leonardo Dutra, interessado naquele momento na cartografia das várias pedreiras distribuídas pela cidade, locais de extração de matéria prima para a construção civil, que teve grande importância na própria construção da cidade. Muitas dessas pedreiras, que se encontravam fora do perímetro urbano de Belo Horizonte, hoje já estão incorporadas ao contorno de uma cidade que encontra-se ainda em franca expansão, e as comunidades que as cercam, muitas vezes permanecem como núcleos marginalizados e com uma qualidade de vida ainda precária.
A Arena Pitanguí pertence à região da Lagoinha, muito próxima do centro da cidade. É mérito da comunidade local a criação, construção e manutenção do clube de futebol Pitanguí que anima os finais de semana, dá formação em futebol à crianças do bairro e das redondezas e já conquistou títulos importantes em campeonatos locais. Através dessa deriva, foi também possível perceber que o bairro traz outras tantas narrativas de um tempo em que foi reduto de seresteiros, dançarinos e amantes da noite. Assim, embora situado originalmente à margem da capital, o bairro Lagoinha possui um histórico marcado pela agitação do comércio, dos botecos e cinemas. Até os dias atuais é possível observar alguns locais que exalam esses traços culturais da região.
Mas, ao falar da Arena Pitanguí evocamos sua comunidade que convive com esse contraste: de um lado um campo de futebol, com grama artificial no padrão FIFA; do outro, a falta de saneamento básico adequado, barracões precários e pobreza. Identificamos a dura realidade de quem luta cotidianamente para conquistar o seu lugar, participando de uma história que nem sempre valoriza todos os seus personagens, mas que podemos reconhecer nas crianças que brincam na rua, no varal de roupas a secar, nas escadas com vista para o céu... Entre pedras, mina d'água e o acolhimento de portas abertas de sua comunidade, apreendemos mais do que um percurso a mais na cidade: compartilhamos vidas que teceram nossa existência por mais um dia. Produção bilateral de alteridade.
Participantes:
Armando Queiroz. Diego Luan. Elisa Campos. Frederico Caiafa. Ingrid Sa Lee. Isadora Bellavinha. José Lara. Lais Ferreira. Laura Berbert. Leonardo DutraLeticia Grandinetti. Marcelino Peixoto. Mariana Paz. Mônica Vaz. Nélio Costa. Rafael Sodré. Sávio Reale. Thálita Motta.